A nossa história com o Rei Pelé

Tivemos a honra de trabalhar com Pelé em pelo menos sete oportunidades ao longo da jornada de 27 anos da Textual. Em todas, constatamos aquilo que o mundo vem enaltecendo nos últimos dias: o quanto ele era gentil, solícito, atencioso com todos, além do gênio da bola. Atendia, com tranquilidade e delicadeza, todo mundo, sempre reiterando que não precisava de segurança adicional, mesmo quando se via literalmente cercado por fãs ávidos por um momento com ele.

Destaco aqui três momentos vividos com ele e que ilustram bem o Rei na atitude, na humildade e no profissionalismo também fora do gramado.

Pequim, 2008, durante os Jogos Olímpicos. Na agenda de promoção da candidatura do Rio 2016, da qual éramos responsáveis pela comunicação, estava prevista a visita de Pelé à área interna da vila olímpica, onde os atletas e técnicos vivem durante os Jogos. Um local de acesso super restrito, sem presença de público e da imprensa. A ideia era o Rei caminhar pela área e fazer uma visita à Prefeita do local. Estamos falando, portanto, de uma área habitada pelos melhores atletas do mundo de muitas modalidades, a maioria deles, assim, acostumada a lidar com os astros do seu universo. Pois é, mas, com Pelé, foi diferente. A vila literalmente parou, atletas de todas as idades, de diversos países, se aproximaram para falar com ele, até mesmo os retraídos voluntários chineses perderam a linha e se juntaram à caminhada do Rei, que virou um frisson. Uma das pessoas da organização dos Jogos nos disse que chamaria mais seguranças, mas o Rei foi categórico: “não precisa”. E seguiu parando para fotos e autógrafos com todo mundo, numa caminhada que, claro, durou o dobro do tempo previsto.

Um ano depois: Copenhagen, 2009, semana da eleição da cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Estava com nossa equipe na capital dinamarquesa, desenvolvendo uma agenda de visibilidade em torno da candidatura do Rio, da qual, claro, Pelé fazia parte. Uma das atividades aconteceria numa pequena escola da cidade, frequentada, majoritariamente, por crianças filhas de imigrantes. Pelé daria o pontapé inicial de uma partida de futebol entre times do colégio, numa quadra de cimento. Um momento singelo, cheio de simbolismos, reforçando a magia e a capacidade de união e integração do esporte. O impressionante que aconteceu foi que a notícia da presença do Rei na pequena escola se espalhou pelas redondezas e começaram a surgir crianças com seus pais ou mães de todos os lados e no maior frenesi para encontrar o Rei.

Como assim? Crianças pequenas, vivendo na Dinamarca, enlouquecidas, gritando, com seus diferentes sotaques, o nome do Pelé? Sim, foi o que aconteceu. Nós, brasileiros, sempre soubemos que Pelé era global, muito antes do mundo se globalizar. Mas aquelas crianças pequenas com olhos brilhando e gritando o nome do Rei me deixaram atônita e tomada de uma grande emoção.

E o Rei? “Tranquilão”, deu o pontapé inicial como previsto e quase ia ficando no jogo, se não fosse a gente pedindo para ele encerrar por ali, porque sabíamos do enorme desafio que seria a sua caminhada da quadra cercada até o carro. Com a simpatia e tranquilidade de sempre, falou, abraçou, tirou foto com cada criança, cada pai, cada mãe que o cercou. E um paredão de fotógrafos e cinegrafistas do mundo inteiro registrou esse momento mágico.

O terceiro episódio: Rio de Janeiro, 2001, durante a coletiva de apresentação da parceria da Coca-Cola com o Rei, quando seriam anunciados o lançamento de uma campanha publicitária e de uma exposição em São Paulo. Na sala vip, cumprimentei Pelé, me coloquei à disposição e partiu dele a pergunta sobre detalhes do que seria o evento e sobre mensagens que gostaríamos que ele reforçasse. Opa, mais uma vez, atestei: o Rei é mesmo diferente. Trocamos algumas ideias e o alertei de que provavelmente a imprensa esportiva repercutiria com ele, na coletiva,  o noticiário do dia sobre a dúvida da escalação de Romário para a seleção brasileira. “Opa, se me perguntarem, vou dizer que, se eu fosse o técnico, Romário estaria sempre na minha seleção”. Ele agradeceu o ‘toque” e foi justamente essa resposta dada por Pelé a um repórter que levou a coletiva de anúncio da parceria com a Coca-Cola para as manchetes de toda a imprensa.

Carina Almeida e Pelé na coletiva de apresentação da parceria da Coca-Cola

A honra de trabalhar com o Rei. Aqui, em 2001, no Rio de Janeiro.

Houve outros momentos mágicos e também de muito aprendizado com Pelé, ainda em 2010, 2014, 2016.

Obrigada, Pelé. Você é eterno.

Viva o nosso Rei!

Carina Almeida, CEO da Textual

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