Ativismo Corporativo é destaque no SXSW 2023

Sim, o SXSW 2023 foi muito sobre Inteligência Artificial Generativa, mas também foi sobre sustentabilidade!

O grande diferencial do festival é justamente combinar tendências de tecnologia e inovação, com o impacto das transformações sobre o bem estar _ das pessoas, claro, mas também do nosso planeta!

E, diante de tantos temas, o desafio é montar a agenda, diante da oferta de quase dois mil painéis ao longo do evento, muitos deles simultâneos.

Nessa maratona, acompanhei três sessões que trataram de ESG, sob diferentes ângulos. Uma delas abordava a questão do ativismo corporativo, com a participação de executivos de três empresas americanas: a fabricante de sorvetes Ben & Jerry’s, a marca de roupas para atividades ao ar livre Patagonia e o Amalgamated Bank, instituição financeira centenária criada por sindicatos de trabalhadores americanos.

O primeiro ponto que me chamou atenção foi o fato de dois desses três executivos terem vindo do mundo político. Ivan Frishberg, VP e Chief Sustainability Officer do Amalgamated Bank, atuou durante 20 anos na defesa de questões públicas antes de ingressar no banco. Já Chris Miller, Head of Global Activism Strategy da Ben & Jerry’s, integrava a equipe do congressista americano Bernie Sanders antes de migrar para o universo corporativo.

Aliás, o próprio cargo de Miller já diz muito. Sua missão é desenvolver e executar campanhas de advocacy da marca de sorvetes, liderando um time de 10 “gerentes de ativismo” espalhados por várias partes do mundo. A mais recente foi o apoio da Ben & Jerry’s à adesão de eleitores negros nas últimas eleições americanas, numa jornada iniciada anos atrás.

Frishberg e Miller compartilharam o painel sobre ativismo corporativo com Corley Kenna, Head de Comunicação da Patagonia, fabricante de roupas americana destinadas a trilhas e atividades ao ar livre, cujo fundador, Ivan Chouinard, anunciou recentemente a decisão de reinvestir todo o lucro da empresa em projetos de combate à mudança climática.

No bate papo franco, ficou claro o quanto a jornada do ativismo corporativo é sobre fazer escolhas conscientes, entendendo, inclusive, os riscos envolvidos, contando, para isso, com o essencial engajamento dos colaboradores.

Em resposta a uma pessoa da plateia, Miller e Frishberg revelaram, por exemplo, que as suas empresas receberam ameaças pesadas de pessoas contrárias às causas apoiadas, o que exigiu a adoção de medidas adicionais de segurança para os funcionários.

O Amalgamated Bank atuou ativamente na criação de um novo código de categoria comercial voltado especificamente para as lojas de armas de fogo. Essa iniciativa permite às autoridades detectar, por exemplo, atividades suspeitas, como a criação de arsenais através da compra de armas em diferentes lojas. O banco centenário, criado por sindicatos de trabalhadores americanos, tem se destacado fortemente na agenda ESG, sob a liderança da CEO Priscilla Brown, filha de pais etiopes.

“Não é o caminho mais fácil de fazer negócio, mas entendemos que é a maneira certa”, pontuou Miller, que respondeu de forma bem direta à outra pergunta sobre perda de consumidores em função dessas escolhas: “não precisamos que todo mundo nos ame. Se alguém não gosta da gente, por apoiarmos o Black Lives Matter, pode tomar o sorvete do concorrente”.

Os resultados de vendas crescentes da marca demonstram que o caminho escolhido pela Ben & Jerry’s tem encontrado eco entre muitos milhões de consumidores. Essa constatação casa com a vertente pragmática trazida por Frishberg no debate: “é preciso pensar na sustentabilidade também sob a perspectiva do faturamento, do crescimento do negócio”.

Uma pessoa da plateia trouxe a pergunta sobre como as pequenas empresas podem contribuir. E Frishberg, mais uma vez, foi bem objetivo: “Abracem a colaboração. Pequeno é bonito, mas o impacto é em escala”.

Já Corley Kenna reforçou a importância da consistência das empresas nessa jornada.  “Não funciona quando a companhia fala de um problema da sociedade, mas não está com a casa arrumada. Os funcionários serão os primeiros a cobrar essa coerência”, pontuou.

Carina Almeida, CEO & Fundadora da Textual

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