O nome da sessão _ “Espírito e Matéria” – já prometia. Bem como a sua descrição: “um diálogo inédito entre saberes, uma experiência intelectual e espiritual rara”. Esse era o descritivo do encontro entre Ailton Krenak e Marcelo Gleiser, no último dia do Rio Innovation Week, super evento que ocupou o Pier Mauá, no Rio, em meados de agosto.
Garanto que não poderia ter terminado melhor a minha sexta-feira, ou melhor, a semana toda! Foi muito impactante ver e ouvir o saber ancestral e a ciência convergindo sobre o que nos levou à urgência climática e o caminho necessário para salvarmos o nosso futuro aqui, no nosso planeta.
Difícil descrever tudo o que foi dito pelos dois incríveis pensadores brasileiros, cujos títulos e referências ocupam várias e várias linhas. Mas compartilho aqui alguns trechos da conversa iluminada entre o filósofo, ambientalista e primeiro escritor indígena da Academia Brasileira de Letras e o astrônomo, físico e professor também de renome internacional. Difícil era desgrudar os olhos e a atenção do palco para registrar as falas:
“Nas histórias mais ancestrais, a narrativa é que tudo é uma coisa só, não existe separação entre nós e a natureza. Já nas narrativas monoteístas, a Terra passou a ser objetificada. Perdemos a ética de pertencimento. E passamos a ter a lógica de poder sobre a Terra. E, assim, chegamos na encruzilhada atual” – Gleiser.
“Geração a geração, estamos nos tornando grosseiros na relação com a mãe Terra. Fora aqueles que acham estar na hora de colonizar outros planetas. Vivemos um abismo sensorial grave. Precisamos resgatar as narrativas de que somos capilaridade dessa Terra” – Krenak.
“Existem 1 trilhão de planetas. Mas não existe uma Terra 2.0. Nosso planeta é único. E, até agora, sabemos que é o único planeta vivo” – Gleiser.
“O corpo da Terra é vivo, tem inteligência e humor. E esse humor varia de acordo com o que fazemos aqui com ele” – Krenak.
“Agora no século 21, cientistas estão se abrindo a outras verdades sobre nossas origens. Tenho esperança que ainda podemos mudar a nossa pegada na Terra. Ela é um jardim, pelo qual precisamos saber andar” – Krenak.
“Precisamos de uma campanha de remaravilhamento natural do mundo. Mas essa experiência só é transformadora se você emerge na natureza. O desafio é que bilhões de pessoas vivem no seu cotidiano apartadas da natureza, nas grandes cidades.” – Gleiser.
“Precisamos gerar uma economia que gere vida, e não morte. A Terra não é uma plataforma extrativista” – Krenak.
Essa conversa sensacional foi mediada pela Flávia Maia, líder climática, que ainda nos convidou a “ressensibilizar os sentidos e o sentir, inspirados pelos ensinamentos de Krenak e Gleiser”.
Convite aceito, Flavia!
Carina Almeida, Sócia-Presidente da Textual