O que você precisa saber sobre a tendência de “desinfluenciar”

Depois de tantos “favoritos do mês”, links de compra e cupons, a influência parece tomar um novo rumo: a moda agora é nos dizer o que não comprar. Isso é o que criadores de conteúdo tem chamado de “desinfluenciar” – uma tendência que mostra sua popularidade pelas mais de 179,4M de visualizações na hashtag #deinfluencing no TikTok.

Quer dizer então que influenciadores estão se rebelando contra seu próprio meio de ganhar dinheiro e “des-recomendando” produtos e marcas que poderiam pagá-los para fazer o contrário? Parece estranho, mas na verdade, faz muito sentido.

O comportamento vai de encontro a duas tendências importantes no ano de 2023: a exaustão de creators e consumidores com a quantidade de estímulos disponíveis nas redes sociais, e os debates sobre sustentabilidade e consumo consciente.

Há uma a infinidade de lançamentos na indústria da beleza e da moda todos os dias, que se somam as muitas tendências que surgem nas redes e acabam por sobrecarregar nossa capacidade de absorvê-las. Embora as novidades possam ser divertidas, acompanhá-las na velocidade em que surgem seria impossível, ainda mais quando ligadas ao poder de compra. A vontade de acompanhar as tendências estimula o vício em comprar, mas encontra uma expectativa irrealista de consumo em meio ao cenário dos desafios econômicos no “pós-covid”.

É aí que entram os “desinfluenciadores”, pegando carona em uma onda que poderia os afogar: inspirar pessoas a comprar menos. O tipo de conteúdo instiga algumas perguntinhas básicas que podem ajudar nessa decisão – “Eu realmente preciso comprar esta nova base viral quando já possuo uma que funciona muito bem para mim?”, “Esse influenciador tem o mesmo tipo ou tom de pele que eu?”, “Eu preciso de uma base com essa funcionalidade?” – mais do que dizer se algum produto é “bom” ou “ruim”, eles fazem compreender que um mesmo produto pode não servir a todas as pessoas igualmente.

Os desinfluenciadores no Brasil

No Brasil, a tendência é um pouco mais tímida e traz o termo “deinfluencing” traduzido em “produtos que eu não compraria novamente” ou “produtos que você não precisa comprar”. Um exemplo é a criadora Amanda Emilio, que possui mais de 863 mil seguidores no TikTok. Em um de seus vídeos, Amanda fala sobre produtos que ganharam fama nas redes, mas que ela não compraria novamente.

Apesar do viés negativo de não recomendar um produto, a forma com que ela faz essa desaprovação é gentil e honesta. Em um trecho, Amanda fala do bodysplash do Bubballo da Boticário, que viralizou no TikTok após seu lançamento: “o cheirinho dele é gostoso, mas ele não tem cheiro de Bubballo com os outros produtos da mesma linha”. Ela diz que não compraria de novo justamente porque o produto não cumpre a sua proposta: “apesar de ter um cheirinho gostoso, com o mesmo valor que paguei nele, eu conseguiria comprar outros produtos da linha que eu gostei mais”.

No caso do vídeo da Amanda, o review negativo para o bodysplash é seguido de sua aprovação e vontade de comprar outros produtos da mesma marca. Aqui, o conceito de “desinfluenciar” se mistura: no fundo, o “não compro isso, mas compro aquilo” ainda está influenciando o consumismo. Mas ainda que desperte essa ironia, a intenção é mais sobre convencer as pessoas de que nem tudo vale a pena ser exagerado, e o produto que todos tem, talvez não seja aquele que você deseja ou que funciona melhor para você.

E as marcas “desinfluenciadas”?

Indo um pouco mais longe, como isso pode afetar as marcas? Sabemos que recomendações de influenciadores são bastante relevantes para consumidores brasileiros, mas será que uma desaprovação como essa afetaria marcas tão negativamente? Às vezes, tudo o que elas precisam é seguir o famoso ditado e fazer uma limonada desses limões que ganharam.

As marcas inteligentes são as que enxergam na “desinfluência” uma oportunidade para pesquisas com consumidores, algo que normalmente custaria bastante dinheiro. Tanto nos vídeos quanto nos comentários, elas têm acesso a um feedback honesto sobre os seus produtos, e sua resposta não precisa ser direta, dentro daquele post, talvez possa ser mais prática, como uma mudança de embalagem ou formulação.

Quem soube fazer isso muito bem foi a empresária e influenciadora Bianca Andrade, que todos nós carinhosamente chamamos de Boca Rosa. Com o lançamento da sua linha de maquiagem Boca Rosa Beauty, Bianca recebeu comentários negativos sobre a embalagem da sua base. A proposta era de um recipiente sem ar, com válvula tipo “pump”, que iria garantir o aproveitamento total do produto – mas que não funcionou muito bem na prática. E o que se esperar de uma empresária que é nativa do digital? Ouvir as conversas do digital! E foi isso que ela fez: em 2022, a base chegou ao mercado em formato de bisnaga, se tornando rapidamente uma das bases mais desejadas entre as brasileiras.

A lição que fica

Embora “desinfluenciar” possa custar às marcas a perda de alguma receita desses compradores impulsivos, elas tem muito mais o que ganhar. Aquelas que ouvirem as críticas construtivas terão o caminho para estabelecer mais confiança e melhorar a retenção de clientes.

Quanto aos consumidores, se deixar “desinfluenciar” e aprender a se contentar com menos, será uma ótima escolha para sua saúde mental, o meio ambiente e seu bolso.

Beatriz Belangier

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