An abyss in education for black women

Fechem os olhos e imaginem uma engenheira. Agora uma advogada, uma médica, uma neurocientista, uma escritora. Todas juntas para uma fotografia de reencontro de uma turma que se conheceu no jardim de infância. Todas essas mulheres são negras. Esta foto imaginária está longe da nossa realidade hoje, não acham??

Uma pesquisa recém-lançada no Brasil revela o tamanho do abismo que separa as mulheres brancas e pretas quando o tema é educação. O trabalho foi feito por duas instituições que se dedicam a mostrar o quanto é importante a luta pela equidade racial no nosso país. O Cedra (Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais) e o Observatório da Branquitude. O boletim tem como base duas fontes de dados oficiais. O Censo de 2010 e a PNAD de 2019.

Comparando mulheres brancas com mulheres negras com idades a partir de 15 anos, o estudo mostra que a mulheres negras analfabetas são mais que o triplo do número de mulheres brancas. A taxa de mulheres brancas que não sabem ler e escrever é de 5,8%. Quando o recorte é de mulheres negras, o percentual sobe para 18,3%. Ou seja, para cada 5 mulheres negras acima de 15 anos no Brasil, uma não sabe ler e escrever.

Na faixa de mulheres jovens (entre 20 e 24 anos) 66,7% de brancas completaram o ensino médio. Já o percentual de mulheres negras com ensino superior completo cai para 48%. Praticamente metade das jovens negras no Brasil não chegam a completar o ensino médio.

Quando a gente fala de ensino superior o abismo é ainda maior. No grupo de mulheres brancas acima de 25 anos, 17,7% conseguem o sonhado diploma universitário. Entre as mulheres negras apenas 6,7% consegue completar o ensino superior.

A pesquisa do Cedra e Observatório da Branquitude tem mais recortes e dados. Mas toda a numeralha só consolida a conclusão principal de todo o estudo. Quando se trata da questão racial entre as mulheres, as brancas estão sempre em vantagem no acesso a uma sala de aula. E com mais preparo acadêmico, é claro, mais oportunidades de emprego e melhores salários.

Em 1945, Enedina Alves Marques, uma mulher negra do Paraná virou notícia ao se tornar a primeira negra engenheira no Brasil. A vida da paranaense, que se viva teria 110 anos hoje, não foi fácil. Trabalhou como empregada doméstica, só teve acesso ao ensino porque o seu patrão matriculou a filha e a empregada na mesma escola para que uma fizesse companhia uma à outra.

Felizmente no Brasil de 2023, apesar das disparidades, temos bem mais exemplos de mulheres negras graduadas do que nos anos 40. Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial é um deles. Com 16 anos, depois de começar uma carreira como jogadora de vôlei, ganhou uma bolsa de estudos e foi morar nos Estados Unidos. Lá se formou e fez mestrado em Jornalismo.

De volta ao Brasil se formou em Letras na Uerj e fez mestrado de Relações Étnico-Raciais no Cefet-RJ. Anielle é irmã da vereadora Marielle Franco, brutalmente assassinada em 2018. E usa sua formação acadêmica na luta contra a violência, mas também para diminuir essa distância racial que separa não só mulheres, mas também jovens negros no acesso ao ensino.

A produção de pesquisas como essa do Cedra e Observatório da Branquitude são importantíssimas porque é através das evidências científicas que podemos pensas em soluções para problemas tão graves na sociedade.

Nós aqui na DiversaCom trabalhamos com esse compromisso. Estabelecendo conexões legítimas entre empresas que querem fortalecer seu papel como agentes de transformação e grupos subrepresentados, gerando valor social.

E quem sabe muito em breve vamos poder ver de olhos bem abertos as fotos de muitas mulheres negras formadas em cursos superiores, comemorando seus reencontros pela vida. Vontade é o primeiro passo.

Macelo Moreira, sócio-diretor da DiversaCom

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