Journalism in Transformation: Digital Natives and New Paths of Information

Em um cenário de profunda transformação tecnológica e mudança nos hábitos de consumo de informação, o evento Nativos Digitais, promovido por J&Cia em julho, reuniu representantes do Metrópoles, UOL e Poder360 para debater os desafios e as oportunidades do jornalismo digital na era da audiência fragmentada, hiper conectada e, muitas vezes, sobrecarregada de conteúdo.

Entre os destaques da conversa, chamou atenção o dado de que 60% da audiência do veículo Metrópoles já está no TikTok, o que reforça a urgência de adaptar o conteúdo jornalístico para novos formatos, mais curtos, visuais e multiplataforma. Fabio Leite, diretor da sucursal do Metrópoles em São Paulo, apontou o desafio de transformar temas complexos, como a fraude do INSS, em vídeos curtos e impactantes, mantendo a qualidade e a responsabilidade editorial.

O diretor executivo do Poder 360, Mateus Netzel, trouxe sua experiência com infográficos compartilháveis, uma aposta de sucesso. De acordo com ele, são mais de 30 publicações por dia com visual forte, linguagem acessível e alto potencial de engajamento. O objetivo é claro: entregar a notícia em formatos que circulam organicamente nas redes sociais, onde grande parte da audiência consome e compartilha conteúdo.

Outro ponto de destaque foi a fala de Murilo Garavello, diretor de conteúdo do UOL, sobre a estratégia de segmentar audiências dentro do WhatsApp, com canais específicos por temas como K-pop, futebol e animes. A iniciativa trouxe forte engajamento e mostra como grandes veículos também estão investindo no caminho de cultivar comunidades online, mais segmentada, direta e personalizada.

A inteligência artificial também entrou em pauta como ferramenta para otimização de processos, revisão de texto e SEO, sem abrir mão da supervisão humana e do alinhamento com os manuais de redação. A expectativa é que a IA amplie ainda mais a capacidade de produção de conteúdo relevante, sob medida e multicanal.

Dados do Reuters Digital News Report 2025, com foco no Brasil, reforçam os desafios dessa jornada:

  • Só 17% dos brasileiros dizem pagar por notícias online, número que caiu em relação a 2024.
  • 46% afirmam evitar o consumo frequente de notícias, evidenciando o cansaço informativo.
  • Apenas 10% ainda leem jornal impresso.
  • E 42% dizem confiar na imprensa, percentual que já foi de 82% em 2015.

Esses números revelam um público exigente, seletivo e que valoriza não apenas a informação, mas a forma como ela é entregue. O jornalismo, por sua vez, precisa ser cada vez mais ágil, confiável, inovador e multiplataforma, respeitando os princípios editoriais enquanto experimenta formatos, canais e abordagens.

A principal lição do evento? Não basta estar presente nas plataformas – é preciso entender como entregar valor real à audiência em cada uma delas. O futuro do jornalismo passa por escuta ativa, segmentação, personalização e, acima de tudo, conexão genuína com quem está do outro lado da tela.

E essas reflexões vão além das redações. Também nos convidam a repensar o trabalho de PR, que hoje exige o mesmo olhar estratégico, sensível às transformações da audiência, às possibilidades tecnológicas e à importância de construir pontes reais entre marcas e veículos, com conteúdo relevante, formatos criativos e narrativas que engajam, informam e geram valor.

Elisandra Escudero

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